sábado, 25 de abril de 2009

"Ao vencedor, as batatas."

Não coincidentemente, esta semana sentimos a energia do santo guerreiro a quem reverenciei no post anterior. Cada um sentiu de perto a força motivadora impelida por ele. Os astrólogos do perído medieval e renascentista notavam o trânsito do planeta vermelho com certo incômodo, pois ele pressagiava guerras, febres e pestes. Assim, apatia definitivamente não está para Marte, dada sua força vigorosa.


Porém, em meio a guerras que travamos no dia-a-dia me veio à tona um dos trechos de Quincas Borba, de Machado de Assis:



Não há morte. O encontro de duas expansões, ou a expansão de duas formas, pode determinar a supressão de uma delas; mas, rigorosamente, não há morte, há vida, porque a supressão de uma é a condição da sobrevivência de outra, e a destruição não atinge o princípio universal e comum. Daí o caráter conservador e benéfico da guerra. Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz, nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais efeitos das ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas.

Como é sabido, Quincas Borba defendia o Humanitismo, que tem como princípio fundamental a liberdade absoluta da condição humana. Em síntese, isso significa deduzir que o ser humano é livre para expressar sua ideas, independente das influências externas; entretanto, depende do reconhecimento da condição humana dos outros também. Ou seja, não se vive só.

Portanto, por mais que nos esforcemos estar alheios às situações, sempre haverá, de algum modo, participação, uma vez que é inerente à condição humana, as ideias de outrem por intermédio da interação. Não existe ficar num cantinho fingindo que nada nos atinge; ou, não tenho nada a ver com isso, faço somente meu trabalho, por exemplo.

Amanhã tem mais! Tenhamos todos um lindo fim de semana.

Beijos!


RB.




3 comentários:

  1. Cuidado com as bataaatas!Politicamente falando: "Aos governantes as batatas, ao povo bananas".

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  2. maneiríssimo... não sei se são meus olhos, mas essa exaltação do coletivo soa um tanto marxista, hein?
    Muito embora admita que qualquer forma de humanismo seja muito maior do que tudo o que jah se fez ou escreveu sobre socialismo, comunismo e outras tentativas de transformar a babel dos homens no reino dos céus de Deus...

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